Memórias de uma época - III

20100310

Caveiras em exibição

Reapropriando-se da Morte para encontrar o entendimento da Vida

Uma curiosa exposição de artes inaugurada em fevereiro último, no Musée Maillol, em Paris: C’est la Vie! Vanités de Caravage à Damien, está chamando muita atenção, a começar da recepção, onde o visitante é saudado com esta frase ameaçadora e irrefutável: Memento Mori: Lembre-se de que vai morrer - lembrança da nossa condição física temporal.

Nas artes, "vanitas" [vaidade] são representações do crânio humano que nos relembram o triunfo da morte sobre todos, a efêmera passagem do ser humano pela Vida e a igualdade de todos perante a Morte.

Essas representações foram muito populares em Flandres (região atualmente da Bélgica e Holanda), nos séculos 16 e 17, combinando caveiras e outros símbolos da efemeridade: frutas podres, ampulhetas e instrumentos musicais (cujos sons também terminam). O tema da morte e da brevidade da vida sempre esteve presente na pintura e escultura (e mais recentemente na fotografia e no cinema) desde a Antiguidade.

Andrieszen, Vanitas quiet life (1635)

Foi muito popular na Idade Média (com a Europa devastada pela peste negra e a Guerra dos Cem Anos), durante o período Barroco (com Caravaggio e os pintores flamengos - acima), entre as Grandes Guerras do Século 20  e no final da década de 70/anos 80 (com o advento da aids). “Ressurge com força na moda e no design neste início de Século 21, marcado, por um lado, pelos avanços da genética e, por outro, pelo consumismo em excesso e a ameaça ecológica (Otávio Dias, Estadão, 2010)”.

A exposição foi montada em três andares, apresentando, no primeiro, a sala dos contemporâneos Andy Warhol (Um dia todos terão direito a 15 minutos de fama), Jean-Michel Basquiat e Robert Mapplethorpe – já falecidos – e os ainda vivos Gerhard Richter, Yan Pei-Ming e Damien Hirst que, recentemente, chamou atenção dos londrinos, ao expor um crânio humano banhado em platina e coberto por 8.601 diamantes (esta obra Em nome de Deus (2007), ao lado, não está em exposição).

No primeiro andar é exibido também um vídeo em que um adolescente, num cenário de guerra (parece Sarajevo), faz embaixadinhas com um crânio.

Caravaggio, São Francisco de Assis meditando (1602)

No segundo andar estão os clássicos, com destaque para Caravaggio e Francisco de Zurbaran – ambos retratando São Francisco de Assis em meditação com um crânio na mão – Georges de La Tour e Delacroix, entre outros ilustres e anônimos.

Georges Braque, L'Atelier au crâne (1938)

O terceiro andar é dedicado aos modernos: Paul Cézanne, Pablo Picasso, Georges Braque (que pintou uma alegre ‘vanité’ em tons de verde e rosa), e Salvador Dalí entre outros famosos e desconhecidos.

Memento mori, mosaico de Pompéia, sec. I d.C

Marc Gassier, bague et anneau en ronde de squelettes (1980)

A mostra reúne ainda fotos e esculturas dos artistas mais renomados da atualidade, assim como objetos e joias de várias épocas, proporcionando uma viagem por mais de 2 mil anos de história da arte. A obra mais antiga em exibição na C’est la Vie! Vanités é um mosaico romano de Pompeia, do Século I d.C.
Dos artesãos de Pompeia às danças macabras medievais, dos pintores surrealistas do século 20 aos artistas da Pop Art ou os agentes provocadores da expressão artística mais recente, cada geração busca cristalizar a vaidade (‘vanité’) de uma civilização, para se reapropriar de sua morte e reencontrar assim o ciclo da vida (Patrizia Nitti, diretora do Museu Mailllol, no catálogo da exposição, p. 40).
Para conferir os trabalhos mais expressivos da C’est la Vie! Vanités, visite os sites de Alain Truong e LuxuryCultura.com que reproduzem algumas imagens dos 160 objetos, pinturas, esculturas, fotografias, vídeos e jóias em exposição.

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