Amazonas – Teatro-Música do século 21
Artistas, sociólogos, antropólogos, arquitetos e compositores trabalham em estreita cooperação para fazer de ‘Amazonas-teatro música’ uma ópera multimídia hipermoderna
A ópera “Amazonas” produzida pela Bienal de Munique e pelo Instituto Goethe, da Alemanha, reune, no mesmo palco, cenários virtuais e o mundo mítico dos índios yanomami. Sua estréia se deu em Munique, dia 8 último. No final do mês, será apresentada em Rotterdan (Holanda), em 21 de julho, estará em São Paulo (Brasil) e em agosto em Lisboa (Portugal).
“Amazonas”, em três atos, inova em tecnologia e conceito. Com o auxílio do filósofo e sociólogo Laymert Garcia dos Santos (engajado politicamente na causa dos índios da Amazônia), os compositores Klaus Schedl e Tato Taborda criaram uma obra sobre os índios com os próprios índios.
Davi Kopenawa, autor de “A queda do Céu“
O primeiro ato, o olhar de longe, “Tilt”, refere-se à expedição de Sir Walter Raleigh pelo rio Orinoco (1595), antecipando o raciocínio europeu sobre a colonização e a mentalidade de latifúndio. O segundo ato, o olhar de perto, “A queda do Céu“, retrata a ganância e a destruição produzida pelo explorador branco, baseado no livro de mesmno nome do xamã yanomami Davi Kopenawa. O terceirto ato, grand finale, apresenta “Conferência Amazonas - Na Expectativa da Eficiência de um Método Racional para a Solução do Problema da Mudança Climática” sobre o futuro do planeta após a queda do céu, por meio de projeções sincronizadas por computadores.
No final, as cadeias informacionais da bio e da sociodiversidade são destruídas, retomando, no plano tecnocientífico, o que a segunda parte, “A Queda do Céu”, previra no plano mítico. Os atores se aproximam da plateia munidos de pequenas telas, nas quais surgem imagens dos espectadores captadas no curso das apresentações.
Depois de assistir a Ópera Amazonas “nenhum espectador deixará o teatro com a mesma consciência sobre a Amazônia com que entrou“, disse Joachim Bernauer, curador do projeto e diretor do Instituto Goethe de Lisboa. Para Peter Ruzicka, diretor artístico da Bienal de Munique, “Amazonas“ é uma redefinição do gênero operístico: “a produção representa o primeiro espécime do teatro-música do século 21”.
A ópera “Amazonas” conta com profissionais de várias partes do mundo (brasileiros, alemães, portugueses, austríacos, um suíço, um inglês), recorrendo às mais refinadas técnicas do som e da imagem digitais, apostando “na possibilidade de um encontro entre universos diferentes, o tradicional e o contemporâneo, entre ianomâmis e artistas e criadores europeus e brasileiros, a partir de um personagem e de seu trágico destino: a floresta amazônica e as ameaças de sua destruição.
Trata-se, portanto, de uma “ópera multimídia”, livre dos rígidos códigos do gênero operístico para usar diferentes materiais e suportes como a imagem e os sons eletrônicos.
“Foi assim que os sensíveis microfones levados pelos compositores e técnicos a Watoriki durante a preparação do trabalho captaram não só o canto dos xamãs, mas também os sons da floresta, do vento, da chuva, da fala do povo; eles penetraram em formigueiros, registraram ruídos de animais e pássaros, enquanto as câmeras negligenciavam as surradas imagens “folclóricas” para fazer um minucioso registro de folhas, luzes, cores, águas – concebendo imagens muito distantes da mera “ilustração” e da óbvia “combinação” de sons e imagens.” (Stella Senra, Trópico, 18/05/2010)Para saber mais, acesse o site Amazonas - Teatro-música em três partes
Mas não deixe de ler também o texto de Stella Senra: Ianomâmis põem a Amazônia na ópera
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